Por Maria da Penha Gaspar Pereira
No contexto de organização do movimento negro brasileiro não podemos nos esquecer do importante papel assumido pelas mulheres negras e suas organizações.
Apesar das transformações das condições de vida e papel das mulheres em todo o mundo, em especial a partir dos anos de 1960, a mulher negra continua vivendo uma situação marcada pela dupla discriminação: ser mulher numa sociedade racista, machista enegra numa sociedade racista.
Feministas negras costumam refletir. Algumas que asituação da mulher negra no Brasil, apesar dos avanços, ainda tem muito que muda. A mulher negra, que período escravista, atuava como trabalhadora forçada, após a abolição, passa a desempenhar trabalhos braçais, insalubres e pesados. Essa situação ainda é a mesma para muitas negras no terceiro milênio.
Mulher negra tem sido aquela que cuida da casa e dos filhos de outras mulheres para que estas possam cumprir uma jornada de trabalho fora de casa. Sendo assim, quando falamos que a mulher moderna tem como uma da sua característica a saída do espaço domestico, dacasa para ganharo espaço publico da rua, do mundo do trabalho, temos que pondera que, na vida e na história da mulher negra,a ocupação do espaço público da rua, do trabalho fora de casa já é uma realidade muito antiga.
A compreensão e sensibilidade para com a história específica das mulheres negras nem sempre ocupam a atenção do movimento negro de um modo geral e nem do movimento feminista. Isso levou as mulheres negras a questionarem a ausência da discussão do gênero articulada com a questão racial dentro do movimento feminista e do movimento negro e a iniciarem uma luta específica. É assim que começa a se organizar o movimento de mulheres negras que hoje, conta com vários tipos de entidades, em diferentes lugares do Brasil, com tendências, concepções políticas e atuação variadas.
As mulheres negras também se organizam em Organizações Não-Governamentais(ONG’s) e têm realizado vários trabalhos de denúncia contra o racismo, cursos, palestras, projetos e debates sobre: educação sexual, saúde produtiva, doenças sexualmente transmissíveis, concepção e nascimento, doenças étnicas, direitos humanos, educação, entre outros.
Para refletir um pouco mais sobre a situação de mulher negra no Brasil, vamos ler dois artigos da mulher negra, escritora e feminista Alzira Rufino, fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra (Santo-SP) e editora da Revista Eparrei..Esses artigos publicados em 2003, nos ajudam a entender um pouco da história das mulheres negras e de sua luta em prol de uma maio igualdade de gênero, social e racial.
Munanga, Kabengele, Gomes Lino, NilmaO Negro no Brasil Hoje. São Paulo: Global, 2006 – (coleção para entender)
Avanço das Mulheres. Que Mulheres?
Décadas de avanço no status das mulheres em todo o mundo e no Brasil, e a mulher negra continua associada às funções que ela desempenha na sociedade colonial imediatamente após a abolição. É, em sua maioria empregada doméstica, a lavadeira, faxineira, a cozinheira. É a trabalhadora que saiu dos trabalhos forçadosdo escravismo diretamente para os trabalhos braçais. Mais insalubres mais pesados, nesta virada do terceiro milênio.
As estatísticas mostram os avanços dasmulheres no Brasil. O censo de 1980 mostra em que profissão há maior concentração feminina: empregada doméstica, secretárias, professoras, vendedoras/balconista e enfermeiras.
Uma década depois em 1990 existem cerca de trinta mil altas executivas, as mulheres eram 62% dos profissionais de Medicina, 42% dos diplomados em Direito, 19% na Imprensa, ocupando 2.301 cargos de juízes no Judiciário.
Basta no entanto, percorremos esses espaços de decisão ocupados pela mão-de-obra feminina para constatarmos que a maioria das mulheres negras não está lá, está ainda nas funções tradicionais, ou seja limpando a sala da diretori, da médica, da advogada, da redação dos jornais, dos tribunais, em resumo, limpando a sala das decisões.
Enquanto as mulheres brancas estão rompendo estereótipos e atingem números significativos em áreas antes restritas aos homens, as mulheres negras ainda têm que lutas para ter acesso a funções como secretáriasou recepcionistas, ocupações tidas como “feninas”, mas que podem ser melhos descritas como “femininas e brancas.”
Mesmo com diploma de curso universitário, poucas mulheres negras conseguem exercer a profissão para qual estudaram arduamente. Não são tão raros os casos em que tem que continuar trabalhando como empregada domestica e faxineirasapesar de terem o curso superior. Aliás, as trabalhadoras domésticas são negras, em sua maioria, e é fácil perceber o porquêda lentidão no reconhecimento de seus direitos trabalhista e por que apenas 1/3 tem carteiraassinada. Mesmo com a implementação da Lei recentemente ainda algumas empregadoras se omitem a reconhecer os direitos dessas trabalhadoras.
(Alzira Rufino. Avanço das mulheres. Que mulheres? Eparei. Santos n4, ano II, p.12-13)
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